Agora deixarei as questões hormonais em segundo plano e trarei o começo do entendimento.
Fui novamente à Macaé, nas férias de verão de 2001. Meus tios moram perto da praia e nesse período estava rolando o Fest Verão Macaé. Era uma festivalzinho com shows durante alguns finais de semana, na praia, de graça. Tinha da Alcione à Gil (uma menina do Axé). Mas entre essas atrações a mamãe do rock nacional, Rita Lee, se apresentou. Fiquei encantado com a excentricidade dela. Claro que conhecia algumas músicas e a imagem da cantora, mas nunca tinha assistido a um show dela. A sua simpatia gratuita, que hoje já escoou pelo ralo, me pegou de jeito naquela noite.
Com toda essa vibração nacional, Diana, minha prima, nos dias seguintes, pegou uns CDs de música brasileira do pai dela e colocou pra escutarmos enquanto papeávamos ou eu implicava com o seu mau humor. Um dos CDs era o da trilha sonora de uma minissérie da globo, Labirinto, e eu me encantei muito por uma música fácil de se entender e de se encantar: Verbos Sujeitos – Zélia Duncan. Nessa tarde aprendi a usar o Repeat no micro system.
Antes disso, em 2000, no meu aniversário de 12 anos, ganhei de uma tia um vale CD. Agradeci, a abracei, mas não foi o presente que mais gostei, não. Eu já tinha todos os CDs da Spielberg e por hora nada além dela me interessava, mesmo porque eu não me sentia livre pra trocar pelos CDs das boybands que me interessavam (todas elas e os seus integrantes – outra vez os padrões decepcionando no futuro – heheh), porque eu sou o filho mais novo, né?! Imagina, depois de seu irmão ver os rapazes nos seus disquetes ele ainda ouvir rapazes “gatos” no rádio de casa. Não iria dar certo.
Então, o que fiz com esse vale CD? Guardei.
Ao voltar dessa viagem tão intensa musicalmente, no dia seguinte já fui trocar o meu presente por dois CDs da cantora: o atual da época: Sortimento. E por uma coletânea dela.
Fui empolgado pra casa, coloquei os CDs no rádio e, pimba(!): Eca!
Pura falta de paciência com a cantora. Achei quase tudo intragável e eu tinha quase certeza que ela queria se igualar com aquela outra que usava a garganta pra arranhar a tinta e azulejos.
Com o tempo resolvi dar mais atenção à ela, afinal, eu troquei por dois CDs, né?! Imprimi meia dúzia de letras da coletânea e me deparei com uma que já tinha ouvido algumas vezes por aí: Catedral. Tá! A letra não foi importante, mas comecei a dar mais idéia pra moça. Então, depois de um bom tempo tentando entender algumas letras, fui procurar outras na internet. Achei algo que mexeu comigo! “Bom pra você” é um desses achados. Nada que algo bem explicito pra começar a forçar o menininho que cantava em inglês sem saber a letra a compreender a mensagem: “Então beije o que é bom, mostre o que é bom, excite o que é bom, bom pra você!”. Com esse trecho passei a encará-la como uma mocinha que entendia o que se passava dentro de mim. Será? Fui averiguar, agora, com esse olhar.
Fui crescendo, amadurecendo e conseguindo entender melhor as músicas. As letras não precisavam mais ser tão diretas, objetivas. Na verdade a música podia falar de qualquer outra coisa que eu entenderia como se fosse uma música de afirmação. Era algo que fazia bem, eu começava a me sentir menos errado. Mas eu ainda tinha noção de que o que eu era não podia ser anunciado para quem quisesse ouvir.