sábado, 2 de abril de 2011

Capítulo 06 – Zélia Duncan

                Agora deixarei as questões hormonais em segundo plano e trarei o começo do entendimento.
                Fui novamente à Macaé, nas férias de verão de 2001. Meus tios moram perto da praia e nesse período estava rolando o Fest Verão Macaé. Era uma festivalzinho com shows durante alguns finais de semana, na praia, de graça. Tinha da Alcione à Gil (uma menina do Axé). Mas entre essas atrações a mamãe do rock nacional, Rita Lee, se apresentou. Fiquei encantado com a excentricidade dela. Claro que conhecia algumas músicas e a imagem da cantora, mas nunca tinha assistido a um show dela. A sua simpatia gratuita, que hoje já escoou pelo ralo, me pegou de jeito naquela noite.
                Com toda essa vibração nacional, Diana, minha prima, nos dias seguintes, pegou uns CDs de música brasileira do pai dela e colocou pra escutarmos enquanto papeávamos ou eu implicava com o seu mau humor. Um dos CDs era o da trilha sonora de uma minissérie da globo, Labirinto, e eu me encantei muito por uma música fácil de se entender e de se encantar: Verbos Sujeitos – Zélia Duncan. Nessa tarde aprendi a usar o Repeat no micro system.
                Antes disso, em 2000, no meu aniversário de 12 anos, ganhei de uma tia um vale CD. Agradeci, a abracei, mas não foi o presente que mais gostei, não. Eu já tinha todos os CDs da Spielberg e por hora nada além dela me interessava, mesmo porque eu não me sentia livre pra trocar pelos CDs das boybands que me interessavam (todas elas e os seus integrantes – outra vez os padrões decepcionando no futuro – heheh), porque eu sou o filho mais novo, né?! Imagina, depois de seu irmão ver os rapazes nos seus disquetes ele ainda ouvir rapazes “gatos” no rádio de casa. Não iria dar certo.
                Então, o que fiz com esse vale CD? Guardei.
                Ao voltar dessa viagem tão intensa musicalmente, no dia seguinte já fui trocar o meu presente por dois CDs da cantora: o atual da época: Sortimento.  E por uma coletânea dela.
                Fui empolgado pra casa, coloquei os CDs no rádio e, pimba(!): Eca!
                Pura falta de paciência com a cantora. Achei quase tudo intragável e eu tinha quase certeza que ela queria se igualar com aquela outra que usava a garganta pra arranhar a tinta e azulejos.
    Com o tempo resolvi dar mais atenção à ela, afinal, eu troquei por dois CDs, né?! Imprimi meia dúzia de letras da coletânea e me deparei com uma que já tinha ouvido algumas vezes por aí: Catedral. Tá! A letra não foi importante, mas comecei a dar mais idéia pra moça. Então, depois de um bom tempo tentando entender algumas letras, fui procurar outras na internet. Achei algo que mexeu comigo! “Bom pra você” é um desses achados. Nada que algo bem explicito pra começar a forçar o menininho que cantava em inglês sem saber a letra a compreender a mensagem: “Então beije o que é bom, mostre o que é bom, excite o que é bom, bom pra você!”. Com esse trecho passei a encará-la como uma mocinha que entendia o que se passava dentro de mim. Será? Fui averiguar, agora, com esse olhar.
                Fui crescendo, amadurecendo e conseguindo entender melhor as músicas. As letras não precisavam mais ser tão diretas, objetivas. Na verdade a música podia falar de qualquer outra coisa que eu entenderia como se fosse uma música de afirmação. Era algo que fazia bem, eu começava a me sentir menos errado. Mas eu ainda tinha noção de que o que eu era não podia ser anunciado para quem quisesse ouvir.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Capítulo 05 – Disquetes arco-íris

                Algumas experiências com fotos pornográficas começaram entre 1999 e 2000. Eu chegava da escola, meus irmãos no curso de inglês (ou em qualquer outro compromisso que não me lembro) e meus pais no trabalho. A internet ainda era discada, rolava até aquele sonzinho chiado para conectar o computador à rede e, claro, o preço era alto por algumas horas de conexão (sem contar na velocidade "tartaruga-flash").
                Corria pra frente do computador e levantava as orelhas como se fosse um pastor-alemão treinado pela polícia em busca de sons de pessoas se aproximando de onde eu estava, já sabia que não seria bom ser visto ali. Entrava no saudoso "Cadê?" e escrevia coisas como "Homens se beijando". Vários sites eram sugeridos e eu via fotos e mais fotos de homens. Era engraçado, eu tinha certo nojo da anatomia, achava grosseira, vulgar, sei lá! Mas adorava vê-los em momentos fofos de intimidade. Eu copiava essas fotos em disquetes (misericórdia, DISQUETES!) para não precisar conectar sempre que tivesse um tempo sozinho em casa.
                Um dia abri um raio de um desses disquetes (lembro que gostava dos disquetes de cores mais extravagantes - laranjas, verdes, roxos...) e não tinha nenhum arquivo. Na minha inocência cheguei a pensar que os arquivos eram protegidos pelo site e que ele os rastreava e os excluía. O que fiz? Busquei outros sites e capturei outras imagens. "Ora, ninguém vai rastrear os meus arquivos!".
                Coitado do bobão aqui. Já dá pra imaginar o que aconteceu, né?! Meus irmãos acessaram o histórico, provavelmente para encontrar algum site que haviam acessado, e deram de cara com homens nus. Fizeram uma varredura, descobriram os luxuosos disquetes “arco-íris” e excluíram as fotos da “pobre criança”.
                Mas não pára por aí. Num sábado, perto do meio-dia, enquanto eu via a adorável (na época) Danielle Winits no jornal local, falando sobre uma peça que fazia na cidade, meu irmão do meio me chama no quarto dos meus pais e fecha a porta. Só estávamos nós dois lá. Ele então solta: "Vimos que você andou entrando em uns sites estranhos. Por que você entra?". Assim mesmo. Numa paz e tranqüilidade imensa no preconceito adolescente de um garoto de 15 anos no começo dos anos 2000. Mas a minha resposta mostra que a minha inocência tinha perna mais curta que as mentiras que eu inventava, chorando eu disse: "Ai, na verdade é um colega meu de turma que não tem internet e me dá R$20,00 por cada disquete que levo pra ele com essas fotos." (JESUS! ALGUÉM TEM IDÉIA DO QUE É R$20,00 PARA UM GAROTINHO DE 11 ANOS NO FINAL DA DÉCADA DE 90? IMAGINA ISSO PRA UM DISQUETE? – Bom, precisava desabafar e relatar que hoje percebo o quanto a minha inocência tinha as pernas longas, sim.).
                Meu irmão fingiu que acreditou, eu fingi que era convincente, apagamos os disquetes e parei de procurar esses materiais pecaminosos na internet.


                                              Até que descobri o tal "histórico"! Heheh