quinta-feira, 31 de março de 2011

Capítulo 04 – Fora dos padrões

                Resolvi fazer uma pequena nota sobre algo que deixei meio implícito anteriormente: os homens que eu achava bonitos e que estavam fora dos padrões.
                Duas figuras que não despertam o interesse da maioria das pessoas, pra mim, eram como príncipes. O primeiro, acredite, era o Jim Carey em “Ace Ventura”. Nossa! Ao rever esse filme eu me questiono em que momento o meu olhar sobre ele ficou “encantado”. Lembro, inclusive, de uma vez que, sem querer, soltei pra um primo: “Esse cara é bonitão, né?!”. Perguntei, percebi que perguntei e a barriga gelou, nada além disso. Mas por quem eu tinha paixão infantil sufocada e platônica era pelo saudoso Beakman! Um cientista maluco de um programa que passava na TV Cultura. Ele era amigo de um rato gigante e de uma garota tão descabelada quanto o próprio “bonitão”. Lembro que eu ficava mega atento com as informações que ele passava. Pra quem não conhece, basta procurar “Beakman “no Google. Um fofo, né?!
                Não me lembro de nenhum outro “diferentão” que marcou minha infância. Só sei que o Beakman me fazia suspirar!

domingo, 27 de março de 2011

Capítulo 03 – Rio de Janeiro


                Quando eu era pequeno, eu achava que todo mundo tinha algum parente que morava no Rio de Janeiro. Tá, se não fosse Rio capital que fosse alguma cidade do interior, como era o meu caso. Crescendo fui percebendo que não era bem assim. Mesmo nascendo em Brasília fui percebendo que a origem das famílias que vieram de outro estado não é exclusivamente fluminense. A propósito algum nó nas minhas idéias fazia com que eu pensasse que, por ter familiares morando no Rio, eu tinha alguma espécie de descendência de lá. A verdade é que esses parentes que lá vivem são mineiros. Hein? Que confusão isso era pra um garotinho desatento. A partir daí eu achava mega normal ser confundido com mineiro (coisa que não aconteceu o tanto que eu gostaria). Ok! Essa confusão de criança desorientada pouco interfere no que realmente importa aqui. É só pra lembrar sobre algumas coisas "mágicas" que aconteciam no Rio. Na verdade na cidade interiorana, no litoral fluminense: a pequena Macaé (tão pequena que eu inclusive brincava dizendo que lá nem Frutilly era vendido). Lá eu era mais livre! Uma tia e um tio me recebiam tão bem que eu me sentia o segundo filho. Minha prima Diana era uma japonesinha mais velha uns três anos, esquentadinha, às vezes. Bem bravinha!  Lembro que por isso eu adorava implicar com ela. Tadinha.
                Diana tinha uma pasta com fotos e mais fotos do ídolo adolescente do momento, Leonardo Dicaprio. Era ela entrar no banho que eu abria a pastinha e ficava encantado com as várias fotos do ator . Eu era bem apaixonadinho por ele (hoje vejo como criança tem um gosto meio padronizado e enviesado – nem sempre, talvez eu comente sobre outros caras que eu considerava bonitos).
                Outra coisa que tornava a viagem mágica eram os momentos em que brincávamos de Rei (Sim, era o jeito de eu tornar a clássica brincadeira "Casinha" em algo um pouco mais de rapazinho). A diferença entre Rei e Casinha é que em “Rei” você brinca de que sua família é a real e que todos vocês moram em um luxuoso castelo. O rei é o pai, a rainha a mãe e assim por diante.
                Sem contar nos clipes popteen que eu via na casa dela e me sentia livre pra cantar e gostar. Meu primeiro CD comprado com meu "suado" dinheirinho foi um da não mais querida Britney Spears (lembro que pensava que ela tinha algum parentesco com o Steven Spielberg - vai entender, né?!).
                Foi aí que eu comecei a perceber que eu estava fora dos padrões, me senti diferente! Não só na vontade de dançar com o garotinho na quadrilha, mas também nas brincadeiras com as menininhas, nos gostos que elas tinham pra música e nas paixões pelos ídolos adolescentes perfeitamente sem sal.

Capítulo 02 – Tentativa de apresentação


                Quando o assunto é sexualidade fica complicado contar tudo sem passarmos por questões de preconceito ou, pelo menos, auto-aceitação. Então escolho começar esse relato com o segundo ponto colocado. Auto-aceitação.
                Sempre fui um garoto tímido e, beirando os meus 11 anos de idade, fui me tornando cada vez mais disperso (o que fez com que minhas notas, desde a 5ª série, diminuíssem consideravelmente). Nessas condições passei a me considerar um aluno que declinava. Antes eu era um garotinho com boas notas, com potencial, mesmo que a tabuada tenha suado um pouco pra entrar na caixola, depois fui me tornando mais desinteressado, desligado e, mesmo que isso seja levemente contraditório, agitado.
                Algo já perturbava a minha cabeça. "Será que quero ser menina?" -  era uma pergunta que me vinha (não de forma tão objetiva e literal). Isso me perturbava e contribuiu muito para o declínio escolar. Maldade, penso hoje. Muitos gays se tornam figuras extremamente interessantes e focadas como forma de “compensação” (e falo baseado em um livro que li - "Mãe sempre sabe?"), porque comigo a falta de auto-aceitação funcionou às avessas? Pois bem, eu perdia mais tempo tentando ser engraçado e espirituoso, coisa que às vezes me convenço de que sou e outras tantas não.
                Acho que a minha falta de foco também pode ser relatada, visto que embaralhei várias informações sem chegar necessariamente onde eu queria. A questão é que eu me julgava e me negava muito. Lembro que foi bastante incômodo pensar, em uma quadrilha da escolinha, que eu deveria estar dançando com um daqueles menininhos com o bigode pintado com lápis de olho. E ao poucos passei a ser um garoto que se escondia atrás da extroversão misturada com a simpatia e a educação em excesso.
                Eis o problema da auto-aceitação. A vontade de ser aprovado por todos de uma forma imediata, seja pela educação ou pelo bom humor (dias atrás um amigo me disse que eu pareço muito contente e bem humorado nas fotos que coloquei na internet. Fiquei feliz com o comentário, mas ele logo finalizou dizendo "...mas dá pra notar um quê melancólico no seu olhar. Não que isso seja ruim, é bonito até, mas é melancólico.".  Engraçado. Eu achava que estava feliz!). Taí! Será que essa alegria e tentativa de dar gargalhadas o tempo inteiro condizem com o que tem por dentro da minha casca?

Capítulo 01 – A iniciativa

                Em meados de 2009, quase concluindo o meu primeiro semestre na universidade, uma amiga, ao perceber que eu estava cabisbaixo, se aproximou. Ela não imaginava o que poderia estar se passando dentro de mim e eu também não tinha a menor intenção de contar. Se tinha uma coisa que eu detestava nessa vida (e confesso que ainda detesto) é demonstrar minha fragilidade em relação aos assuntos mais corriqueiros e quase que naturais para outras tantas pessoas. Essa amiga, Bella, não encontrou forma de me acalentar e, já entendendo que não podia fazer nada, me sugeriu uma coisa:
- Caio, sabe o que faço quando estou triste?
- O que?
- Escrevo. Escrevo e muitas vezes até jogo fora. Mas escrevo. Assim eu sinto que estou desabafando de alguma forma. Não sinto o que me martiriza tão dentro de mim, me consumindo.
                Sabe, a princípio eu nem se quer dei muita atenção pro que ela falou, porém seria mentira se eu dissesse que aquilo entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Mesmo tendo dado atenção à sugestão, nos dias que eu estava melhor até implicava, brincando com ela:
- "Eu escrevo, Caio!"
                E ela caía na gargalhada. Simples, doce, fofa e compreensível que é. Mal sabe ela que agora, nesse instante, estou usando dessa estratégia para me acalmar de algo que me persegue desde 2008.

Será que vai funcionar?
Eu não duvido!