Quando o assunto é sexualidade fica complicado contar tudo sem passarmos por questões de preconceito ou, pelo menos, auto-aceitação. Então escolho começar esse relato com o segundo ponto colocado. Auto-aceitação.
Sempre fui um garoto tímido e, beirando os meus 11 anos de idade, fui me tornando cada vez mais disperso (o que fez com que minhas notas, desde a 5ª série, diminuíssem consideravelmente). Nessas condições passei a me considerar um aluno que declinava. Antes eu era um garotinho com boas notas, com potencial, mesmo que a tabuada tenha suado um pouco pra entrar na caixola, depois fui me tornando mais desinteressado, desligado e, mesmo que isso seja levemente contraditório, agitado.
Algo já perturbava a minha cabeça. "Será que quero ser menina?" - era uma pergunta que me vinha (não de forma tão objetiva e literal). Isso me perturbava e contribuiu muito para o declínio escolar. Maldade, penso hoje. Muitos gays se tornam figuras extremamente interessantes e focadas como forma de “compensação” (e falo baseado em um livro que li - "Mãe sempre sabe?"), porque comigo a falta de auto-aceitação funcionou às avessas? Pois bem, eu perdia mais tempo tentando ser engraçado e espirituoso, coisa que às vezes me convenço de que sou e outras tantas não.
Acho que a minha falta de foco também pode ser relatada, visto que embaralhei várias informações sem chegar necessariamente onde eu queria. A questão é que eu me julgava e me negava muito. Lembro que foi bastante incômodo pensar, em uma quadrilha da escolinha, que eu deveria estar dançando com um daqueles menininhos com o bigode pintado com lápis de olho. E ao poucos passei a ser um garoto que se escondia atrás da extroversão misturada com a simpatia e a educação em excesso.
Eis o problema da auto-aceitação. A vontade de ser aprovado por todos de uma forma imediata, seja pela educação ou pelo bom humor (dias atrás um amigo me disse que eu pareço muito contente e bem humorado nas fotos que coloquei na internet. Fiquei feliz com o comentário, mas ele logo finalizou dizendo "...mas dá pra notar um quê melancólico no seu olhar. Não que isso seja ruim, é bonito até, mas é melancólico.". Engraçado. Eu achava que estava feliz!). Taí! Será que essa alegria e tentativa de dar gargalhadas o tempo inteiro condizem com o que tem por dentro da minha casca?